domingo, 7 de agosto de 2016

Banquete de Ossos

Afaste-me de mim
Deixe-me livre de quem sou
Talvez isso seja apenas quem nós somos,
Talvez eu apenas seja quem nós somos
Como poderia ser outros dois?

Não existe mais ninguém para ser
Todos os outros já são alguém
Sempre, aquele alguém que queria ser
E os outros também não querem ser quem são
Mas não trocariam de lugar comigo

Não poderia ser uma multidão
Tenho me negado ser Legião
Tão veementemente, numa agressão passiva e silenciosa
Talvez isso seja apenas quem nós somos,
Nós, pois não quero ser só

Afaste-me de mim
Cometa o erro de ser sempre disponível, fácil
Seja entregue de bandeja,
Me mata a fome, e de tão glutona, me sacia
Não me sacie, eu sou uma multidão
E o inalcançável me corrói!

Talvez eu apenas seja quem nós somos
Como poderia ser outros dois?
Os outros também não querem ser quem são
Mas não trocariam de lugar comigo
Não me sacie, eu sou uma multidão
Quanto mais longe, mais desejo

Então, quero desejar a mim
Afaste-me de mim
Deixe-me livre de quem sou
Talvez isso seja apenas quem nós somos,
Talvez eu apenas seja quem nós somos
Nesse banquete de tudo, menos nós
Eu sou apenas... Eu apenas sou... Meus ossos.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Vende-Se

Eu não sou mais aquela pessoa que você conheceu,
Na verdade eu não sou ninguém...
Meus lábios já não têm contorno, meus pulmões não prendem o ar
Minhas curvas são dos outros, eu as vendi
Comercializei parte à parte de mim, em troca daquela paz toda de todos os outros.

O tranquilo é o certo, enlouquecer é punição
O doce é o bom, agridoce é revoltante
"A mulher se senta assim, se sente assim, se veja assim"
"Você não é você, você é um projeto em construção..."
"Você não serve para ser uma diva decadente"
"Você não serve para ninguém"

Não sou quem você conheceu,
Eu não sou ninguém
Não sofro, sinto dor
Não me apaixono, eu gosto
Não dou risada, eu sorrio

É vazio, é oco, é translúcido, imperceptível
"Seja responsável, Juízo, amadureça, aprenda!"
É uma caixa à prova de som, não ouve, não fala, não vê
Realmente, não é de verdade, é comercializável
Minhas curvas são dos outros, eu as vendi
Vendi parte à parte de mim, em troca daquela paz toda de todos os outros.

Minhas peças originais não estão inclusas.
As novas foram postas enquanto eu dormia e
Eu não sou mais aquela pessoa que você conheceu,
Na verdade eu não sou ninguém...

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Balada Primaveril



Era uma madrugada iluminada pela luz dela
Mais parecia uma manhã, mas de certo era primavera
Eu, um sátiro repulsivo, diminuto e solitário
Ela uma ninfa, alta, com olhar desatento, iluminada
Me escondia, me negava a sua luz tão rica,
Aquele neon que vinha de seus cabelos...

As mechas esverdeadas como o cenário à beira do lago,
Não eram longas, mal tocavam os ombros,
Mas tocavam minha face e meus lábios
Aquilo tudo era criado por ela,
E eu podia sentí-la, mesmo em meu esconderijo duvidoso e furtivo!

Ela tinha o mel e orvalho nos dedos e pintava, com todos eles,
Cada um, um tom diferente, as Cores quentes do ocre ao vermelho rubro do meu sangue...
Ela sorria e entre os dentes um pincel que não precisaria usar,
A cor e a beleza saiam de dentro de si com precisão pelas pontas de seus dedos.

E os tons dançavam ao redor de seu corpo, saíam como um colorido suor de sua pele
E a banhavam cintilantes, alegres, eles a pertenciam, eu a pertencia
Mas não era minha, não deveria ser, deveria ser exatamente como era
Não pertencia à ninguém, não era posse, era passo, dançante, sorridente

A mim, feioso e solitário, meio bode, meio humano, restava a admiração
Daqui de longe, e eu agradecia, pois ela sabia que eu a espiava
E permitia à imagem, permiti a mim indigno e feliz espectador,
Ver sua criação, o mel e orvalho nos dedos e pintava, com todos eles!

As Cores quentes do ocre ao vermelho rubro do meu sangue...
Ela sorria e entre os dentes um pincel que não precisaria usar,
A cor e a beleza saiam de dentro de si com precisão pelas pontas de seus dedos!
Eu não estaria em seu mural, mas o assistiria.

Ela era sua própria criação
Eu, um sátiro repulsivo, diminuto e solitário.

domingo, 20 de julho de 2014

O Segundo Cavaleiro

Eu vi uma montanha, e ela estava lavada em sangue.
O fogo veio de minhas próprias mãos, e eu sabia, eu era a Guerra!
Vermelho e quente, cavalgando um cavalo com olhos em chamas...
Venha e durma em meu seio, eu te mostrarei meus irmãos.
Eu danço sobre um corpo morto, e choro por aqueles que ainda vivem...
A Morte está vindo, minha amada Morte está vindo.

Minha carne verte o vermelho apodrecido e pó.
Eu vejo o horizonte rubro, cada um de nós vem solitário
E sente os desejos dos homens, nós os invejamos.
É certeiro, queimaria, não fosse gélido, o ocre fede pintando o chão.
É o enxofre, a pólvora e os corações partidos.

Eu não sou os fuzis, e os mortos, eu não sou as trincheiras e as derrotas
Eu sou o cotidiano, o desespero ante o simplório.
Eu sou a vingança, e a ira, eu sou Caim.
Minhas unhas foram arrancadas dos meus olhos, não há cura...
É o fim e ainda não posso ver, não vejo nada além do manto do toureiro!

Não existem tanques, nem exércitos, nem viúvas e nem órfãos
Só existem aqueles a quem mutilei com meu sofrimento.
Então, eu vi uma montanha, e ela estava lavada em sangue.
O fogo veio de minhas próprias mãos, e eu sabia...
Vermelho e quente, cavalgando um cavalo com olhos em chamas...

Venha e durma em meu seio, eu te mostrarei meus irmãos.
Eu danço sobre um corpo morto, e choro por aqueles que ainda vivem...
A Morte está vindo, minha amada Morte está vindo.
Nós somos o nada, e eu... Sou a Guerra!!!


quarta-feira, 25 de junho de 2014

Insônia

Ela fecha os olhos, mas não consegue olhar para dentro de si... Ela não consegue sonhar, sequer consegue dormir... O pesadelo de olhos abertos... Ela precisa que alguém a deixe desmaiar de cansaço, suja com a lama vulgar... Hoje não... Infelizmente... Hoje não...

Chove

Ela se derrama pelas janelas, chorosa, nada é mais feliz e triste que a chuva!!!

Vc não a vê nadar em si mesma, eu só desejo a melhor noite do mundo que o caos pode lhe dar...

Me ligue amanhã, te espero entre minhas pernas... Venha me devorar!!!

terça-feira, 10 de junho de 2014

Amarelo

Minhas pernas se quebraram no caminho até você
O amarelo me impediu de ver que eu não tinha condições de dançar
E você se negou a olhar meus olhos, você não entendia o por que...
Eu chorei, as pernas quebradas não doíam, mas você me doeu
Era eu, me arrastando num esforço vão, as fraturas expostas e todos ignoravam

Não há samaritano nesta estrada, o medo do poeta é que todos o julguem insano
Me fiz em pé, de pernas quebradas, de olhos baixos, você não me notaria
Eu não sou ninguém, e o amarelo me ofusca além do horizonte da ponta de meus dedos
É o meu beijo no seu reflexo, você não sentirá meus lábios, eu não te alcançarei
É tão simples, é tão dolorido, e se vai, a pior dor é deixar que você saia de dentro de mim

E está saindo, bem devagar como um espinho... Eu me lembro... Sangro e vou embora
Sou a viúva de cada uma de minhas chagas e elas não se curam
Não há crime em suas mãos, não há arma, ou provas, apenas a distância
Longe, tão longe quanto o colorido traidor de um arco-íris, eu nunca o tocarei
Não pode nada tão vivo, escorregar para minhas mãos!

Minhas pernas se quebraram no caminho até você
O amarelo me impediu de ver que eu não tinha condições de dançar
Eu não dancei, me contorci para fora de seu caminho, estou apenas de passagem na sua vida
E a escolha está nas suas vísceras, inalcançável para os meus dentes,
A pior dor é deixar que você saia de dentro de mim, não te devorarei!

Meu eu não te segurou, não te abraçou e nem te encantou...
Sou a viúva de cada uma de minhas chagas e elas não se curam
Não há crime em suas mãos, não há arma, ou provas, apenas a distância
E você se foi, passou por mim e não me reconheceu, o amarelo sou eu.